segunda-feira, 21 de março de 2011

Primavera ( O tempo nos parques)





O tempo nos parques é íntimo, inadiável, imparticipante, imarcescível.
Medita nas altas frondes, na última palma da palmeira
Na grande pedra intacta, o tempo nos parques.
O tempo nos parques cisma no olhar cego dos lagos
Dorme nas furnas, isola-se nos quiosques
Oculta-se no torso muscular dos fícus, o tempo nos parques.
O tempo nos parques gera o silêncio do piar dos pássaros
Do passar dos passos, da cor que se move ao longe.
É alto, antigo, presciente o tempo nos parques
É incorruptível; o prenúncio de uma aragem
A agonia de uma folha, o abrir-se de uma flor
Deixam um frêmito no espaço do tempo nos parques.
O tempo nos parques envolve de redomas invisíveis
Os que se amam; eterniza os anseios, petrifica
Os gestos, anestesia os sonhos, o tempo nos parques.
Nos homens dormentes, nas pontes que fogem, na franja
Dos chorões, na cúpula azul o tempo perdura
Nos parques; e a pequenina cutia surpreende
A imobilidade anterior desse tempo no mundo
Porque imóvel, elementar, autêntico, profundo
É o tempo nos parques.

Vinicius de Morais

2 comentários:

Anónimo disse...

Lindas as fotos, lindo o poema! Conseguimos sentir o poema nas fotos!

É assim que me sinto quando estou em parques, em jardins, junto de árvores, flores...


Parabéns!


Ana Catarina, Lisboa

A.lourenço disse...

O poema é de uma beleza incrível e também acho que transforma em palavras tudo o que sentem as pessoas que gostam de estar em parques, florestas, bosques...
Vinicius era um extraordinario poeta e este poema é um hino à natureza.
Muito obrigado pelo comentário.